Sunday, August 20, 2006

Redes, Métodos e Teoria


Em seminário sobre Métodos de Pesquisa promovido pelo PPPG da URGS, o Eduardo Marques da Ciência Política da USP fez uma excelente apresentação sobre suas pesquisas a respeito de redes. Parte da apresentação foi baseada em sua tese doutoral e parte em outros trabalhos, dele e de terceiros. Eduardo mostrou como os cargos mais importantes nas redes permaneceram quase intocados nos governos municipais paulistanos que foram conservadores, mas não nos mais progressistas, de Covas e Erundina. Eduardo usou a mesma aproximação para localizar as redes de corrupção no governo Brizola no Rio de Janeiro. Um excelente trabalho, que dá para pensar. Eduardo salientou que a análise de redes é mais do que um método, é uma teoria também. Eu usei essa página no blog Teorias do Crime, e decidí incluí-la aqui porque é um método também, e promissor, como já salientei.


Não é possível não ficar elaborando hipóteses a partir da exposição de Eduardo:

  • Devido às características do emprego público, todo governante "herda" uma rede da qual é difícil se desfazer. Os cargos de confiança são fáceis, os outros não. Para os cargos estáveis, o mais fácil é "escantear", transferir para cargos irrelevantes. Porém, na medida em que outros cargos são necessários, serão preenchidos pela nova administração, o que provoca um "inchaço" no setor público.
  • No que concerne o crime, particularmente o tráfico, em qualquer momento é fácil verificar a existência de uma rede. Porém, dada a baixíssima esperança de vida livre dos traficantes (muitos morrem e muitos outros são presos), surge o sério problema da duração mínima de uma rede para que ela se qualifique como tal. Numa visão extrema, as redes são totalmente independentes dos seus ocupantes, o que gera problemas porque novos ocupantes mudam a rede e a entrada/saída de ocupantes, relevante para a rede, passa a ser concebida como externa à rede e as mudanças assim provocadas passam a ser externas ao sistema explicativo.
  • Em suma: idéias e mais idéias, provocadas por excelentes exposições de Bruno Reis e Eduardo Marques, num ótimo seminário promovido por gente competente e amável. Precisamos de mais iniciativas como essa.
  • É, também, gratificante ver como melhoram os departamentos - USP, UFMG e URGS.